No Tempo Em Que Os Objectos Falam
No Tempo Em Que Os Objectos Falam
No que observo e apreendo diariamente arrepia-me a escassez no uso de palavras e gestos nos humanos para expressar emoções de uns para com os outros. No entanto, não sei se por compensação, rasgos de imaginação, falta de gosto mesmo ou até brejeirismo numa pseudoliberdade da sexualidade (inclino-me mais para estas últimas), elas abundam subversivamente na utilização publicitária em relação a objectos. Os objectos tornam-se alvo da irradiação emocional humana, irradiação que parece (felizmente) não ter deixado de existir, mas que passou a ter como foco os protagonistas do consumo (infelizmente). Os objectos, num processo de animação, ganham vida como no ‘tempo em que os animais falavam’, passando a caracterizar o tempo presente como o ‘tempo em que os objectos falam’, e estes procuram donos que por eles se apaixonem e sintam desejo, que neles depositem lealdade, fidelidade e compromisso, prometendo eles a reciprocidade; os humanos desenvolvem relações de paixão e apego por esses objectos que com eles convivem diariamente, através da ‘caixinha mágica,’ na procura de uma ilusória felicidade permanente prometida através do ‘ter’ e ‘possuir’ coisas e coisas .
O eco que estas percepções fazem na minha preocupação social provocam-me grande ansiedade, relativamente a futuros acontecimentos possíveis. Como tal é com ansiedade que, nas minhas raras deambulações pelas superfícies comerciais, averiguo da existência da tão temida secção de venda de crianças: a bom preço, com promoções de ‘leve dois pelo preço de um’, e possibilidade de escolha da cor dos olhos, cabelos e pele, altura e peso, nível intelectual e opções políticas e religiosas – na forma de um “Admirável Mundo Novo”, sabiamente profetizado por Aldous Huxley, enfim uma criança à sua medida. Assim todas as expectativas e desejos de concretizações que um filho venha na substituição de executante daquilo que o pai não teve oportunidade, ou ainda de que este cumpra o papel de trofeu que garante uma valorização sócio-cultural, tornar-se-á uma realidade; logo termos pais satisfeitos e felizes e viveremos num mundo sonhadoramente paradisíaco; claro que deixamos ter filhos que se venham a tornar pais que também irão lutar para cumprir desejos pessoais, pois estes filhos ‘escolhidos’ não passarão de extensões e prolongamentos temporais e cognitivo-emocionais dos seus pais. Talvez tenhamos mesmo de encontrar novas palavras para designar estas novas forma de ‘parentesco’, ou alterar nos manuais e dicionários os conceitos cada vez mais inadequados.
É grande o horror com que deixo escorrer estas palavras por entre os meus cabelos, deles para o meu rosto, pescoço e colo e finalmente os acolho como gotículas de fel com os meus dedos alongados pelo excesso de utilização e, com eles, finalmente, desenho estas emoções e reflexões conturbantes.
Sinto a raiva e revolta crescer, apetece lançar à queima roupa:
Que se passa, estaremos a preparar-nos para quando formos nós não mais do que robôs? Ou então é assim que nos transformamos em robôs? Vivo em estado de grande apreensão, desdobro-me na procura de respostas e soluções, inquiro à minha volta desenfreadamente sem obter respostas e já estou em luto antecipatório para a perda da expressividade humana, espontânea e autêntica, não manipulada e condicionada como se fôramos personagens da “Laranja Mecânica”. Não que eu recolha armas, sou teimosa até ao âmago, fico a gritar até que a última cinza dos nossos restos mortais seja lançada em terras férteis e depois continuarei até que a afonia se torne irreparável esperando que outra voz me substitua.
E com esta voz me apresento na inauguração deste espaço de partilha, que espero o seja de facto.
No que observo e apreendo diariamente arrepia-me a escassez no uso de palavras e gestos nos humanos para expressar emoções de uns para com os outros. No entanto, não sei se por compensação, rasgos de imaginação, falta de gosto mesmo ou até brejeirismo numa pseudoliberdade da sexualidade (inclino-me mais para estas últimas), elas abundam subversivamente na utilização publicitária em relação a objectos. Os objectos tornam-se alvo da irradiação emocional humana, irradiação que parece (felizmente) não ter deixado de existir, mas que passou a ter como foco os protagonistas do consumo (infelizmente). Os objectos, num processo de animação, ganham vida como no ‘tempo em que os animais falavam’, passando a caracterizar o tempo presente como o ‘tempo em que os objectos falam’, e estes procuram donos que por eles se apaixonem e sintam desejo, que neles depositem lealdade, fidelidade e compromisso, prometendo eles a reciprocidade; os humanos desenvolvem relações de paixão e apego por esses objectos que com eles convivem diariamente, através da ‘caixinha mágica,’ na procura de uma ilusória felicidade permanente prometida através do ‘ter’ e ‘possuir’ coisas e coisas .
O eco que estas percepções fazem na minha preocupação social provocam-me grande ansiedade, relativamente a futuros acontecimentos possíveis. Como tal é com ansiedade que, nas minhas raras deambulações pelas superfícies comerciais, averiguo da existência da tão temida secção de venda de crianças: a bom preço, com promoções de ‘leve dois pelo preço de um’, e possibilidade de escolha da cor dos olhos, cabelos e pele, altura e peso, nível intelectual e opções políticas e religiosas – na forma de um “Admirável Mundo Novo”, sabiamente profetizado por Aldous Huxley, enfim uma criança à sua medida. Assim todas as expectativas e desejos de concretizações que um filho venha na substituição de executante daquilo que o pai não teve oportunidade, ou ainda de que este cumpra o papel de trofeu que garante uma valorização sócio-cultural, tornar-se-á uma realidade; logo termos pais satisfeitos e felizes e viveremos num mundo sonhadoramente paradisíaco; claro que deixamos ter filhos que se venham a tornar pais que também irão lutar para cumprir desejos pessoais, pois estes filhos ‘escolhidos’ não passarão de extensões e prolongamentos temporais e cognitivo-emocionais dos seus pais. Talvez tenhamos mesmo de encontrar novas palavras para designar estas novas forma de ‘parentesco’, ou alterar nos manuais e dicionários os conceitos cada vez mais inadequados.
É grande o horror com que deixo escorrer estas palavras por entre os meus cabelos, deles para o meu rosto, pescoço e colo e finalmente os acolho como gotículas de fel com os meus dedos alongados pelo excesso de utilização e, com eles, finalmente, desenho estas emoções e reflexões conturbantes.
Sinto a raiva e revolta crescer, apetece lançar à queima roupa:
Que se passa, estaremos a preparar-nos para quando formos nós não mais do que robôs? Ou então é assim que nos transformamos em robôs? Vivo em estado de grande apreensão, desdobro-me na procura de respostas e soluções, inquiro à minha volta desenfreadamente sem obter respostas e já estou em luto antecipatório para a perda da expressividade humana, espontânea e autêntica, não manipulada e condicionada como se fôramos personagens da “Laranja Mecânica”. Não que eu recolha armas, sou teimosa até ao âmago, fico a gritar até que a última cinza dos nossos restos mortais seja lançada em terras férteis e depois continuarei até que a afonia se torne irreparável esperando que outra voz me substitua.
E com esta voz me apresento na inauguração deste espaço de partilha, que espero o seja de facto.
1 Comentários:
será, não tenho dúvidas, pelo pontapé de saída. é por textos como estes que eu sou um indefectível defendor da blogosfera. vou sentar-me aqui à espera dos próximos textos.
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