quarta-feira, janeiro 26, 2005

Verdade?!!!!



Vi(nos) em Closer, palco cinematográfico onde parece haver um desencadear compulsivo da verdade tendo subjacente a posse obsessiva de outrém, tornando-se o motivador da verdade compulsiva num desvirtuador da mesma. Neste a verdade verborreicamente lançada no cruzamento continuo das 4 personagens, apresenta-se como uma verdade escassa, limitada (ora), camuflando outras verdades possíveis e tendo na base um desejo de posse extremamente encarcerador. O desejo da posse que aproxima e a ilusão de posse que distancia. O querer do outro confundido num materialismo que, através do invólucro estético que a cada um nos cabe, se materializa em desejo quase obsessivo. O desistir do outro que se julga possuir, como se algum ser humano se esgotasse na expressividade que a relação amorosa encerra, como uma tarefa acabada, donde para se manter vivo terá de iniciar novas movimentações de posse ... acto continuo.
Obra de expressão artística que nos reflecte, ainda que num simples esgar, tornando-se possível consciencializarmo-nos dos excessos, do grotesco e do ridículo que protagonizamos. Assim podemos encetar nova busca, questionar e experimentar novos ‘papeis’, novas ‘verdades’.

Verdade(s) que pode(m) ser tarefa de uma ou de muitas vidas, em actos concretos ou imaginados, registada nas memórias vividas ou nas páginas recriadas. Verdade(s) apanágio dos movimentos da humanidade, escritos religiosos, mitos civilizacionais, romances medievais e crónicas históricas. Verdade(s) apanágio da estória de cada um, que parece(m) dar sentido ao ‘sentido da vida’, mesmo quando esta parece não ter qualquer sentido. Verdade(s) subjectiva(s) que se pretende(m) objectivar, para estruturar, sistematizar, medir e massificar para a todos servir e homogeneizar num ‘zen’ paliativo na frustração das concretizações possíveis. Verdade(s) que não temos que beber como álcool anestesiante; dizia Baudelaire que devemos embriagar-nos mas há muitas formas de o fazer sem que seja obrigatoriamente o vinho.
Desintoxiquemo-nos da(s) verdade(s) alheia(s) para no despertar ficarmos aptos a podermos embriagar-nos na(s) nossa(s) verdade(s), naquelas que brotam dum cérebro em intensa activação, num vasto leque de alternativas possíveis num flexibilidade mental de quem ousa.

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