quinta-feira, outubro 21, 2004

Saudades Da Mais Velha Profissão do Mundo

Que saudades do tempo em que uma prostituta o era completamente, o era como Henry Miller descrevia, prostituta uma mulher de uma integridade profissional onde vocábulos e metáforas não existiam para ‘eufemismizar’ o real e fazer de ‘emplastros leão’ ao falso pudico, onde não saiam da sua boca impropérios como: “os meus dedos dos pés são barómetros”, “dissimulado”, “reflecti”, e outros do género letrado. Valência Princesa do Mundo, com ponto de espera no Inatel, deixou-me baralhada, parece que anda a ler as revistas erradas. Consultará revistas de literatura, ciências humanas? Quase apostava que está desencaminhada pela leitura da natureza do mal, onde parece ter relações privilegiadas, de manipulação quase me atrevo a dizer, onde a estarão a tentar fazer sair do seu bom caminho para que passe a ser uma prostituta híbrida (estou farta de híbridos e transgéneros), ai onde divulgou o seu ponto de ataque. Deve andar a consumir a Ler ou Babélia correndo o risco de contágio de palavras de corruptores como as de António Lobo Antunes, sem a protecção da Gina e da Caras. Alguém que a resgate, por favor, antes que a salvação não seja possível.

Que saudade de uma boa prostituta, autêntica, ordinária, idiossincrática no seu papel de vendedora de afectos (que o outro compra e usa de si para si e não que se apodera do outro), onde o corpo não passa de um embrulho mais ou menos berrante, com fitas decorativas, que acciona fantasias erótico-cognitivas, numa antevisão de ali encontrar o reflexo de tudo o que dentro de si brilha e o contentor de tudo o que dentro de si tresanda.

Que saudades daquela linguagem clara, com significados nada ambíguos, inteligíveis em qualquer contexto. Sons articulados com a intensidade de uma vivência sem remorsos, nem ‘pesos de consciência’, na lucidez de um serviço essencial e benéfico no altruísmo comunitário, numa opção de missão equivalente a tantas outras actividades de contributo social.

Que saudades de uma prostituta que nos obsequeia com o obsceno, sem barreiras ético-políticas, nem de rigor artístico-estético. De um obsceno que nos leva aos bastidores de portas entreabertas, onde o privado, que a todos pertence e que a todos interessa (por identificação de prazeres e horrores que cada um vive), se nos dá a conhecer, bastante mas não todo: o suficiente para salivarmos e fantasiarmos, mas sem perdemos a mística nem o encantamento que é a imaginação do que pode ser.

Que saudades do silêncio enobrecido, de quem cala mas não consente, daquelas que merecem o reconhecimento não assumido, de quem usa, abusa e não defende em deferência ao respeito com que os tratam.

Que saudades ...

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