quinta-feira, janeiro 27, 2005

Papinha para bebé

A propósito da magnífica reflexão que “Closer” suscitou na FF: são ainda muito poucas as vozes e talvez mais importante, comportamentos e até atitudes derivadas de consciências críticas e pensantes. Desde sempre o Homem pretendeu respostas para as suas dúvidas. Como tentativa de descargo de consciência para o esforço da sua procura, apoiou-se na natureza, na religião, na sorte para que as suas actividades ou a sua inércia, os seus receios não pairassem sem resposta, ou pior, fossem relegados para um porão soturno e aí ficassem até que o pó os soterrasse de vez (e ficam, cada vez mais). Mas, se em tempos houve uma tentativa de procura, hoje há a espera generalizada que uma resposta seja cuspida para dentro do cérebro. Cada vez mais me convenço que a maioria das pessoas “engole” um filme, um comentário na tv, uma notícia como papinha para bebé: macia e de preferência sem grânulos que impeçam o deslizar suave. O sabor é efémero a digestão não é trabalhosa. Às vezes é bom, é até saudável. Mas o “às vezes” não pode constituir-se regra. A crítica construtiva desapareceu. O que interessa é o “bota abaixo” – temos até deputados, candidatos a deputados e a PM´s que se esmeram, juntamente com as suas equipas de marketing, para mostrar o discurso mais irónico, com os podres mais fétidos dos seus adversários, havendo ainda espaço para manobras de diversão com o literal “bota abaixo”... Perante isto há aqueles (e não são poucos) que dizem: “se eles não dão o exemplo para que havemos nós de dar?” “O que é que interessa o que nós dizemos?”. Interessa. Começa logo no nosso grupo de amigos, no nosso grupo de trabalho. Eu costumo dizer aos amorfos mas tremendamente rezingueiros dos meus formandos adolescentes que repetem incessantemente frases como aquelas, que o espírito crítico começa ali no modo como se comportam com os colegas, no próprio espaço de formação, num espaço [que deveria ser] propício ao diálogo, à divulgação fundamentada das suas opiniões, de abertura de horizontes.

“Quais horizontes abertos? Quanto mais sabemos, mais temos com que se preocupar!” Felizes os ignorantes!!!!!!