Éros e Tánatos
Dar a vida por alguém, abdicar de um bem para permitir que o outro usufrua desse mesmo bem que é viver, é de facto muito louvável, muito da essência afectiva humana no sentido do oposto ao espirito de sobrevivência biológica de cada indivíduo.
Dar a morte por alguém, abdicar do desejo e direito de morrer (mesmo que numa vida não digna) para permitir que outro tenha um sentido de vida para quem a sua presença é uma inspiração, é igualmente louvável e cheio de dádiva.
Morrer por uma causa, para fazer valer uma ideia que traga repercussões no bem estar da comunidade, modificações benéficas a uma sociedade, melhorias na qualidade de vida dos que habitam um espaço culturalmente determinado, é de um altruísmo sedutor e generoso.
Em qualquer das situações a liberdade é o núcleo. Liberdade que se tem quando vivo em se decidir sobre o fim dessa vida, direito de livre arbítrio que a todos é (ou devia ser) inerente. Liberdade que não possui aquele que está condenado à morte, que não tem opção, seja por doença, acidente, ou por determinação macabramente deliberada pelo juízo doutros humanos que de forma maníaca se autodenominam de deuses, como se um julgamento fosse uma convocatória para o Olimpo.
Quem são os ‘deuses’ que definem os critérios para determinar o que é digno ou não? Que critérios são esses: estar em sofrimento e dependente total não é indigno, mas ter de viver torna alguém digno – avaliam as instituições legais; é feto e tem síndroma de Down autoriza-se o aborto porque...ter este síndroma torna-o não digno para viver??? Que critérios? Previne-se que prossiga uma vida com o referido síndroma mas proíbe-se a interrupção noutras circunstâncias que não consigo avaliar que não sejam igualmente válidas. Não entendo como encaixam isto, estas actuações com fundamentações tão paradoxais em que o fundamento que dá o sinal sim é o mesmo que dá o não para outra situação.
Situação embaraçosa para uma sociedade de produção e consumo, situação que não interessa a uma sociedade minimalista – diga não à diversidade das espécies, diga não à diversidade dentro da espécie humana, diga sim a uniformizar a espécie, venha dai novo hitlerismo só que mascarado de legalidades universais, onde instituições promotoras são ostentadas como defendendo valores humanitários de interesse geral, com poder de actuação inabalável e omnipotente.
Eu digo não a qualquer movimento no sentido de nos privarem da liberdade de sermos e agirmos de acordo com os que nós próprios determinarmos, no sentido daquilo que a nós diz respeito:
a nossa vida,
a nossa sexualidade,
a nossa integridade.
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