quarta-feira, fevereiro 21, 2007

não ... Yes

Por mais agradável ou curioso que fosse a diversidade de paisagens com o seu colorido popular ou urbano ou monocromatismo do deserto, não me convenceu o enleado de argumentos, nem as suas personagens injectadas de incidentes possíveis numa orquestração de cronologias e encadeamentos aparentemente inevitáveis (como as peças do dominó montadas de forma a que assim que a primeira caísse todas as outras se lhe seguiam de forma sequente e consequente, sem alternativas que não fosse retirar alguma peça da sequência) para um exercitar de maquinação de factos (muito dejá vú – recordo o brilhantismo com que este surge no filme Magnólia 1999) equivalente a quem brinca de ser um Deus que controla os destinos, que pode ser visualizada em Babel.
Assim, para além de nos deixar na tensão do desenrolar de acontecimentos que nos deixam mobilizados pela sua dramaticidade ou tragédia mediáticas, a mim só me deixou de facto de olhar preso e incomodado a jovem japonesa que ostentava uma conturbação muito bem interpretada nas suas tentativas desesperadas de aliviar um sofrimento existente para além dos seus alegados motivos. Só ela me convenceu no seu olhar perdido, que buscava encontrar-se das formas mais impulsivas e do que é básico no humano, onde a sexualidade desponta de forma incómoda (sendo até muito ridícula e imprecisamente chamada de ninfomaníaca por algum critico da praça pública), provocatória e como acto quase último de uma solidão que vai para além das paredes de um trigésimo andar e da possível metáfora na característica surda-muda da jovem; uma solidão urbana que remete para as impossibilidades dos diálogos narcísicos (tomando a forma de monólogos) que compõem as nossas sociedades tecnologicamente cada vez mais desenvolvidas e facilitadoras de um mutismo individual que colide com o ruído/verborreia social.



Para quem busca um filme que tenha dramaticidade cultural e socio-política (envolvendo questões intercruzadas de uma americana no Reino Unido, passando pelo Líbano e culminando num recomeço em Cuba), com uma boa tridimensionalidade das personagens onde surge a poesia não lamechas, com uma expressão de quotidiano que encontra e lhe dá um sentido (quase como uma abordagem daquilo que é primário e o enaltecimento e sofisticação daquilo que é simples encontrada no “The Meaning of Life” dos Monty Python’s), e que nos dá um belíssimo tom na existência das personagens silenciosas: busquem nos vossos videoclubes, o filme “Yes” de Sally Potter (2004).

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