domingo, outubro 24, 2004

Satisfação Intranquila

«Ruanda proíbe uso de sacos de plástico O Ruanda é um país em reconstrução e é preciso "fazer as coisas como deve ser". Com este argumento, o Governo não só proibiu a utilização de sacos de plástico em todo o país, como pôs a polícia a multar cidadãos e fechar estabelecimentos que não estivessem a cumprir a lei. "Os sacos de plástico são nocivos à saúde e ao ambiente e queremos que as pessoas usem, em vez deles, cestos tradicionais", afirma a ministra ruandesa do Território e do Ambiente, Drocella Mugorewera, citada pela Reuters. na segunda-feira, para celebrar o Dia Mundial do Habitat, o Governo concedeu um dia de folga aos trabalhadores, exortando toda a população a remover sacos de plástico e lixo das suas comunidades. Introduzida em 20 de Agosto, a proibição dos plásticos abrange também a sua produção e importação. Alguns comerciantes, no entanto, contestam a medida, vendo-a mais como uma prova de força. "O Governo está a ser injusto com os pequenos comerciantes. Alguns de nós são incapazes de suportar materiais de embalagem caros, os nossos clientes estão a fugir", opina o proprietário de um quiosque. "As nossas acções não são severas", rebate a ministra. "As pessoas foram avisadas de que cada ruandês deve proteger o ambiente. A polícia tem o direito de interpelar as pessoas, seja qual for o crime".»
noticia cuja divulgação me chegou via mail em Outubro 2004

Li, fiquei apreensiva, não conseguia articular as ideias.
Eu tenho por hábito ir aos estabelecimentos públicos e recusar sacos de plástico, pelo menos tentando reduzir o número dos que vou ‘obrigatoriamente coleccionando’. Mas uma acção destas, num país destes, promove-nos a paradoxos ideológicos: satisfação porque algo se faz pela protecção do ambiente, apreensão porque algo mais essencial não se faz para o bem estar deste povo, satisfação pela deixa para lutarmos contra a excessiva produção plástica (alimentação, estética, ambiente, etc.), apreensão porque teríamos de reestruturar as dimensões dos nossos espaços para transportar e acondicionar as nossas viciosas necessidades; satisfação porque um detrito de saco de plástico na rua pode ser motivo para uma deambulação artística (cf. American Beauty, Sam Mendes), apreensão porque a nossa qualidade de vida está ameaçada e somos diariamente invadidos pelos agressores visuais, auditivos, atmosféricos, tácteis e cinestésicos.
Satisfação intranquila é o que acontecimentos e medidas destas nos trazem, mas também como ter tranquilidade com tanto conturbação, injustiça e sofrimento à nossa volta. Também não o desejo, não podemos ficar distraídos, nem desperdiçar oportunidades de promover a reflexão e a agitação, senão na acção pelo menos na elocução.

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