quinta-feira, outubro 04, 2007

Vários círculos entrelaçados vestem uma lâmpada acesa e o efeito que produzem no verde da minha parede é docemente hipnotizante. Necessito, como de água e de chocolate, poder evadir-me. Basta de notícias, de imagens que penosamente me ferem o olhar, de ideias desordenadas que me flecham os neurónios demasiado doloridos com a falta de cidadania de muitos, (tantos !), indivíduos ludibriados por necessidades falsamente criadas pela gulosa sociedade moderna onde tudo é tão facilmente descartável e substituível. Hoje disseram-se que uma das “manias” que compõem o meu visual, “até já nem está muito na moda”! Eu que, pronto, enfim, vá lá, gosto do assunto, conheço as tendências dos trapos e acessórios e até me deixo influenciar por algumas, fingi ignorar o comentário da bela mocita que, compreendo, queria convencer-me que no estabelecimento que representava, deveria haver alguma coisa “dentro da moda” que, certamente, iria ao encontro da minha pretensa “necessidade”. Apeteceu-me responder-lhe mas num acto de preguiça argumentativa soltei apenas as palavras no interior da minha cabeça: ainda que não estivesse na moda, eu gostaria. (ponto final!). Vivemos num empenhamento constante em alcançar as últimas modas (do desperdício). Vivemos com o desejo da novidade constante, o desejo do instantâneo. “Necessito, necessito, necessito… Agora!! Necessito?!(será?!) oh! Já me fartei. Deito fora? É melhor. Se não vejo, não penso mais nisso. Não crio remorsos. Viro a página. Destruo. Faço delete. Arranjo outra novidade. Crio outra necessidade, outra paixão”. Nas coisas, assim como no(s) amor(s). Zygmunt Bauman (sociólogo Polaco) designa esta sociedade de líquida. Esta liquidez é transversal a todos os domínios da nossa vida e doentia (acrescento eu). Queremos muito e queremos depressa.

É Preciso fazer pausa. Ou melhor play.
Ma fleur, os círculos de sombra na parede nua, e a chuva a tocar na janela. Triplamente hipnotizante.

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2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

"ama-se o que se conquista com esforço", e portanto, o que não se conquista com esforço, não se ama o suficiente para não se deitar fora por dá-cá-aquela-palha! como longe da vista, longe do coração, quando não queremos mais aqueles sapatos, que ao velos nos fazem lembrar o balurdio que demos por eles, o melhor mesmo é deitar fora!
eu cá, gosto de ter tudo muito perto do meu coração! de ter, de não deitar fora, de recordar, ainda que escondidos na caixa que não abro á anos! talvez agora, como já está tudo inventado, e apenas se revive, reviva a minha infancia, com sapatos de verniz que detestava, e agora estão tão na moda...mariline

3:54 da tarde  
Blogger susana c. disse...

o que se conquista com esforço tende a permanecer por mais tempo. como se de um trofeu se tratasse. Nos dias que correm e apesar de parecer um paradoxo face ao paradigma dominante, é sempre bom ir ao baú e encontrar algo. sempre podemos voltar a usar ou reciclar ou pura e simplesmente rever e relembrar. estás a ver a boa ideia que foi guardar esses sapatos de verniz!?!

11:19 da tarde  

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