segunda-feira, novembro 01, 2004

Ajudar com o Olhar

Há dois anos apareciam no nosso país – na tv e nalgumas revistas adjacentes a determinados jornais - alguns spots de publicidade institucional que acusavam o desprezo a que são votados os sem abrigo. Estes pequenos (grandes) alertas foram realizados por uma equipa de jovens portugueses valendo-lhes, inclusive, um prémio de publicidade a nível europeu dentro da categoria em que se enquadrava. Através de imagens a preto e cinza podíamos ver as escadas do metro de Lisboa . Num dos degraus aparecia o nome e a idade de alguém. A ideia estava magnífica. A mensagem era forte: Ninguém os vê, ou melhor todos os ignoram, mas eles estão lá. Infelizmente, também essas imagens foram ignoradas. É mais fácil “pormos para o lado” aquilo que nos traz alguma dor ou aquilo que poderá vir a ser o nosso futuro. “Se não olharmos para eles, eles não entram no nosso mundo. Xô, vai-te embora mau agoiro!!”. Ninguém, está livre.

As ruas das grandes cidades estão cheias de pedintes. Sem abrigo ou indivíduos a quem a desgraçada vida obriga a este tipo de exposição. Muitos são oportunistas. Mas quais deles serão oportunistas? O receio de sermos enganados é outra das justificações para apressarmos o passo e negarmos visibilidade àqueles que se aninham na soleira de uma porta, ou sempre que alguém nos aborda.

Desde muito nova que sou incapaz de negar um olhar e muitas vezes algumas palavras a quem me interpela na rua com o intuito de pedir ajuda. Posso ser ludibriada mas, salvo casos que me pareciam demasiado óbvios, nunca o meu primeiro olhar foi reprovador. Raramente, dou dinheiro. Compro a revista Cais. Ajudo, comprando alguns pensos rápidos porque dão sempre jeito. Também contribuo com bens alimentares e vestuário: jamais esquecerei, o sorriso com que uma criança me presenteou, há poucos anos atrás, à saída do Pingo Doce da Baixa de Coimbra. Pediu-me dinheiro. Em troca ofereci-lhe um iogurte líquido e um pacotinho de bolachas de chocolate.

Posso, na maioria das vezes, não contribuir monetariamente para esses “peditórios”, mas um olhar, um reconhecer de que ali está um ser humano, isso nunca nego.

1 Comentários:

Blogger JPN disse...

"Posso, na maioria das vezes, não contribuir monetariamente para esses “peditórios”, mas um olhar, um reconhecer de que ali está um ser humano, isso nunca nego."
:)

2:27 da manhã  

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