Tolerante?
A partir das 21h30 sobrepõe-se, naquela rua, uma mescla de perfumes florais, citrinos com notas de madeira ou outras coisas que não identifico mas todos eles fortemente intensos e quentes. Vozes elevadas e saltos altos competem com o vazio individualista que abraça a grande e velha Lisboa à noite. Exuberantes, louras ou morenas altas,quase todas muito altas nos altos saltos. Nádegas redondas e proeminentes, seios sinuosos, corpos que ondulam. Mais afastada uma morena numa pose mais recatada, não obstante a indumentária “apropriada” para uma festinha disco kitch. Parecia triste, ou talvez fosse o seu papel. Portuguesa, pensei eu. As brasileiras são mais atrevidas (o nosso quadro de referências adianta-se sempre). Agarradas e reprodutoras enfáticas do estereótipo de feminilidade dão colorido (e aroma) à rua. Os carros passam, há troca de piropos, há troca de insultos, há propostas aliciantes, há propostas desgastantes e humilhantes, há negócio e com sorte a manhã chega com notas na carteira, a roupa intacta, os lábios vermelhos (de batom) e “as partes” pouco doridas. Sem sorte, o seu corpo é maltratado ou o seu negócio interrompido. “Toca a dispersar” Algumas não se calam e acabam na esquadra, por perturbar a ordem numa zona pública, residencial e a uma hora em que não é aconselhável fazer barulho. Ocasionalmente a vizinhança cansa-se e chama a autoridade policial para as por dali para fora. “Estas putas/ paneleiros/travecas são inconvenientes, barulhentos, trazem insegurança – justifica quem telefona”. Exceptuando os perfumes com que, literalmente, se banham, a presença delas não me parece ser demasiado perturbadora do sossego daquelas e daqueles que descansam de noite e trabalham de dia.
“Se fosses tu a morar aqui não gostavas!”
“Pedia-lhes para falarem mais baixo, se estivessem histéricas, respondi sorrindo”
“Não aguentavas com isto todas as noites e não irias querer que os teus filhos crescessem a isto”
“Não sei. Apenas me assusta a efeito secundário da presença delas aqui. As guerras pelo “best spot” e as agressões verbais e até físicas a que muitas vezes são sujeitas.
“Vês, começas a concordar comigo! … não sei como consegues defini-los como mulheres. Têm mamas mas são homens (...)”
“ Eu olho para elas e vejo mulheres logo é assim que as trato. E não concordo contigo.”
Guardei para mim que reconheço que a rua por vezes se torna insegura.
“Se fosses tu a morar aqui não gostavas!”
“Pedia-lhes para falarem mais baixo, se estivessem histéricas, respondi sorrindo”
“Não aguentavas com isto todas as noites e não irias querer que os teus filhos crescessem a isto”
“Não sei. Apenas me assusta a efeito secundário da presença delas aqui. As guerras pelo “best spot” e as agressões verbais e até físicas a que muitas vezes são sujeitas.
“Vês, começas a concordar comigo! … não sei como consegues defini-los como mulheres. Têm mamas mas são homens (...)”
“ Eu olho para elas e vejo mulheres logo é assim que as trato. E não concordo contigo.”
Guardei para mim que reconheço que a rua por vezes se torna insegura.
Etiquetas: diversidade, tolerância