sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Tolerante?

A partir das 21h30 sobrepõe-se, naquela rua, uma mescla de perfumes florais, citrinos com notas de madeira ou outras coisas que não identifico mas todos eles fortemente intensos e quentes. Vozes elevadas e saltos altos competem com o vazio individualista que abraça a grande e velha Lisboa à noite. Exuberantes, louras ou morenas altas,quase todas muito altas nos altos saltos. Nádegas redondas e proeminentes, seios sinuosos, corpos que ondulam. Mais afastada uma morena numa pose mais recatada, não obstante a indumentária “apropriada” para uma festinha disco kitch. Parecia triste, ou talvez fosse o seu papel. Portuguesa, pensei eu. As brasileiras são mais atrevidas (o nosso quadro de referências adianta-se sempre). Agarradas e reprodutoras enfáticas do estereótipo de feminilidade dão colorido (e aroma) à rua. Os carros passam, há troca de piropos, há troca de insultos, há propostas aliciantes, há propostas desgastantes e humilhantes, há negócio e com sorte a manhã chega com notas na carteira, a roupa intacta, os lábios vermelhos (de batom) e “as partes” pouco doridas. Sem sorte, o seu corpo é maltratado ou o seu negócio interrompido. “Toca a dispersar” Algumas não se calam e acabam na esquadra, por perturbar a ordem numa zona pública, residencial e a uma hora em que não é aconselhável fazer barulho. Ocasionalmente a vizinhança cansa-se e chama a autoridade policial para as por dali para fora. “Estas putas/ paneleiros/travecas são inconvenientes, barulhentos, trazem insegurança – justifica quem telefona”. Exceptuando os perfumes com que, literalmente, se banham, a presença delas não me parece ser demasiado perturbadora do sossego daquelas e daqueles que descansam de noite e trabalham de dia.
“Se fosses tu a morar aqui não gostavas!”
“Pedia-lhes para falarem mais baixo, se estivessem histéricas, respondi sorrindo”
“Não aguentavas com isto todas as noites e não irias querer que os teus filhos crescessem a isto”
“Não sei. Apenas me assusta a efeito secundário da presença delas aqui. As guerras pelo “best spot” e as agressões verbais e até físicas a que muitas vezes são sujeitas.
“Vês, começas a concordar comigo! … não sei como consegues defini-los como mulheres. Têm mamas mas são homens (...)”
“ Eu olho para elas e vejo mulheres logo é assim que as trato. E não concordo contigo.”

Guardei para mim que reconheço que a rua por vezes se torna insegura.

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domingo, fevereiro 03, 2008

foto ff

Desisto! – Disse ela. Estou farta desta merda toda, desta solidão quase acompanhada, desta tentativa infrutífera de juntar bocados, de fazer puzzles que …(ofegante pára para respirar)…e continua…não encaixam e não interessam a ninguém, de correr contra o vento para embater contra muros cheios de durezas implacáveis, de me sentir uma alien sem ter onde repousar a vista, ansiosa pelas flores que hão-de vir com a nossa amiga fazedora de explosão de cores escondidas nas grutas de Inverno, de dizer que estou farta de ser mendiga de afectos, de ouvir dizer tens que fazer alguma coisa… procura outros tesouros, sê mais dócil… mais uma pausa para respirar e prossegue: …quando bastaria que (ainda que temporariamente) me abraçassem e dissessem: tens razão em tudo (mesmo que não tenha) porque o sentes e essa é uma verdade inquestionável, deixa rolar tuas lágrimas pelos sulcos de minhas mãos, das rugas da precocidade dos atormentados, dos vales dos que sonham e se desiludem, dos que buscam e não encontram, dos que viajam na busca de um mundo mais ideal.
(pausa para respirar)
Acrescenta – Desisto e a minha alma também porque está tão frouxa de tanto se esticar para todos os lados procurando alcançar paraísos oásicos, desisto por cansaço…até outros dias em que os sóis iluminem a outra margem…! – Cala-se, exausta.

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