a menina do ar
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"A menina do Ar
Chamam-lhe menina do Ar, porque sempre que tenta andar mais depressa ou correr os pés saem-lhe do chão e sobe, sobe…
Nos olhos, em vez de pupilas tem dois luminosos e curiosos globos terrestres, que olham a direito, mas raramente coincidem, quando um está em África o outro está na América do Sul. A sua gargalhada é límpida como a de um bebé que docemente ri com o corpo todo.
Veste roupas especiais, feitas de pedacinhos de arco-íris que ficam colados à sua janela no final dos dias de chuva. Reúne-os e meticulosamente coze-os, divertindo-se depois a rodar as saias e os lenços que ata aos cabelos.
_Mãe, olha uma menina flor. Gritava uma criança na rua.
_Oh, cala-te lá, não vês que é a menina do Ar. Corre, corre olha que perdemos o autocarro, não olhes para cima…
Um especialista muito especializado, disse numa conferência que a menina do Ar tem um problema que a torna muito especial; o seu coração é feito de plasticina e farta-se de a enganar e arreliar. Ora disfarça-se de pulmão, ora de fémur e, imaginem só, até de sangue consegue fazer-se passar. A menina não o controla, ás vezes ele cresce tanto que fica maior que ela e chega a explodir, espalhando-se generosamente por cima de tudo e de todos, para depois se reconstruir e encavalitar mais uma vez ás suas costas. Ela que remédio, carrega-o como uma cruz e à noite dormem um dentro do outro.
Consta que a menina do Ar com vestes de arco-íris guarda um segredo. Em manhãs de nevoeiro torna-se mulher e foge para o mar. O mar trai a areia, sua amante de sempre, com a mulher do Ar. A Água e o Ar misturam-se, embatem na Terra e provocam Fogo. Depois, desaparece o nevoeiro e volta a menina do Ar com o seu coração de plasticina.
Ontem à noite disse-me um anjo, que na sub-cave da casa da menina, ela constrói algo muito precioso: umas asas feitas de bocadinhos de alma, que as pessoas carinhosamente lhe oferecem e ela cuidadosamente os transporta. Tem-nos de todas as cores: branco castidade; verde pinheiro manso; vermelho Abril; lilás poesia; cor 13 de Maio; amarelo abrasador e até negro catastrófico. Com a mesma arte com que faz as suas vestes, também delicadamente une os bocadinhos de alma em silêncio.
O anjo que espreitara os destinos de Deus, disse-me que não sabia se ela queria ser pássaro ou vento ou apenas palavra. Certo era, que o verbo mais presente no seu fado era VOAR, Voar conjugado em todos os tempos e em todas as pessoas." Anisia
Obrigada Anisia pela dádiva e por seres