quinta-feira, agosto 31, 2006

Erotismo


fotos de ff

Delineia-se numa imaginação de contornos suspeitos – uma forma longa arredondada ou cilíndrica, macia e robusta, flexível mas determinada, impertinente, curiosa e exploradora. Com os seus instintos carnívoros, sedentos e cavernosos vai-se impulsionando pelos odores que se vão produzindo e desprendendo das suas paredes ruborizadas, humedecidas e intumescidas pela espera do seu hóspede, que pode chegar em traje de cerimónia mas que depressa se despirá sem pudor, disposto e disponível para a massajar em ritmos assimétricos: umas vezes lenta e suavemente num prolongamento delongado, de exploração de cada centímetro em rubro para ser estimulado por aquele convidado especial na sua arte e dom de fazer vibrar; outras vezes rápido e acelerado, apressado e incentivador deixando todos em êxtase de quase voar. Que convidado tão desejável e desejado num paradoxo de entrar e sair, de ir e vir, sempre numa renovação cada vez mais intensa e urgente, um vaivém desenfreado que contorce torpores, renasce músculos esquecidos, descobre esgares e trejeitos recônditos, arqueia curvaturas cristalizadas, aumenta dimensões apetecíveis num deleite de refeição carnal irrecusável até pelo vegetariano mais ortodoxo.
Oh visitante, hóspede desejado e talentoso, ide e penetrai o umbral do jardim dos prazeres recônditos, ide descobrir os tesouros secretos e envergonhados que abundam nos lagos de profundas floras exóticas. Ide amiúde, descobrir todos os segredos escondidos, para que outros se recriem até nova visita de descoberta, ousadia e êxtase.
Ide Senhor Amo e Servo da Senhora Rainha e Escrava de seus odores, humores e ardores e torcei-lhe o esgar mais racional ao instinto mais carnal, transformando-se ambos num animal enfurecido de amores, que a ninguém fere ou molesta, talvez contagie numa dádiva de prazeres partilhados.
Ide Senhor e deixai-a em quebranto de descanso de guerreiro após tarefa cumprida e vitórias acumuladas.

sábado, agosto 26, 2006

The love post

Quando os seus lábios são excitação, quando o evocar do seu toque é suspiro, quando o seu aconchego é paz, quando paixão é um estado…
Quando…

“Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham p’ra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você”

(“Eu não existo sem você”
Tom Jobim – Vinicius de Moraes)

sábado, agosto 12, 2006

requiem ...


fotos de ff

... para uma modesta ostentação

Quando já não movimentar entre vós minhas pernas de escanzelados joelhos e ossudos pés, não lamenteis meus feitios e mal feitos, não recordeis minhas palavras, nem evoqueis meus gestos, guardai dentro de vós tão somente aquilo que possamos ter aprendido juntos e que nos fez crescer enquanto pessoas que se deram as mãos.Quando entre vós eu já não passear meus vistosos tacões nem manusear meus longos dedos enfeitados de belos anéis, não lamenteis minhas dores nem meus suores, concretizai o que ambicionei e não alcancei, de forma a que usufruíeis do que não pude, viveis o que não consegui e fruíeis dos prazeres onde não vibrei.

quarta-feira, agosto 02, 2006

à meia-noite pelo telefone


fotos de ff

"
À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do seu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
«Se você não vem depressa até aqui
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até ao amanhecer?»

Concordo, calo-me."

Carlos Drummond de Andrade in Amor Natural