domingo, junho 26, 2005

Sonhei que acordara de um sonho


Escher


Sonhei que acordara de um sonho em que os as pessoas estavam apartadas por muros altos, espessos, escuros e húmidos. As pessoas esbracejavam para se fazerem ouvir pelos que habitavam os muros adjacentes, mas o máximo que conseguiam era esfarraparem os dedos, esfolarem as membros e sulcarem as faces.
Sonhei que acordara deste sonho angustiante para um dia em que a verdade se espantou e fez espantar. Nesse dia pais e filhos reencontraram-se, antigos amantes revisitaram-se, amigos distantes solidarizaram-se. Foram ditas palavras que nunca haviam sido soletradas, foram abundantemente oferecidos olhares meigos, os braços estenderam-se para acariciar o aveludado da pele, os sorrisos construíram-se como os luminosos enfeites de natal a berrar que poderíamos deixar os corações dispararem de felicidade, os ouvidos juntaram-se ao peito para se embalarem naquele bater que gritava a vida. Assim bastava olharmo-nos para que outro soubesse o que necessitávamos, as palavras e os gestos fluíram com a naturalidade com que a lua nos visita, com a beleza com que a natureza incansavelmente se maquilha e com a intensidade com que o sol nos aquece.
Então:
Não houve mais desencontros.
Não houve mais mal-entendidos.
Não houve mais corações encarcerados nas suas masmorras solitárias.
Não houve mais sois desperdiçados.
Não houve mais luas desamparadas.
Não houve mais marés assoladoras.
Não houve mais dor de existir.

quinta-feira, junho 23, 2005

‘Bora tomografar algumas emoções, excitações, olhares descarados ou envergonhados, histerias dos 18 aos 80, erecções explicitas ou dolorosamente (suponho eu!) enfiadas nuns jeans apertados e quiçá relaxar um pouquito, se não houver muita gente a pensar fazer o mesmo!
Não iremos de boca aberta mas contamos ver algumas entusiasmadas.

domingo, junho 19, 2005

lolita de kubrik




RB, pois eu ainda tenho o sabor na boca da Lolita dirigida por Kubrik. Sabor a humano em essência de posse, hedonismo, sedução, narcisismo. Com uma estética comovente e uma malicia manifesta na figura masculina à laia de ingenuidade de um 'instinto' discutível, e uma ingenuidade dessacralizada na volúpia adolescente...para onde nos leva? para nós próprios? se afirmativo antão o confronto com este eu, talvez escondido, é um encontro adiado?

quarta-feira, junho 15, 2005

bd para consumir urgentemente





Há dias, há idades em que certas leituras são obrigatórias.

play it, Sam.





"Play it, Sam. You played it for her, you can play it for me. Play, "Ink-a-dink-a-doo!" ´

Ha duas semanas todos os quarentões estavam diante do televisor para rever Casablanca. Mas não se trata de um normal fenómeno de nostalgia. De facto, quando Casablanca é projectado nas universidades americanas, os jovens de vinte anos sublinham todas as passagens e todas as frases canónicas (..mandem prender as suspeitos do costume., ou são os canhões ou e o meu coração que bate?., ou todas as vezes que Bogey diz «kid».) com ovações habitualmente reservadas aos desafios de basebol. O mesmo me aconteceu ver numa cinemateca italiana frequentada por jovens. Qual a então o fascínio de Casa­blanca?
A pergunta é legitima. porque Casablanca é, esteticamente falando (ou melhor, do ponto de vista de uma crítica exigente), um modestíssimo filme. Fotonovela, pastelão, onde a verosimilhança psicol6gica é muito débil, os golpes de teatro se encadeiam sem razões atendíveis. E também sabemos porquê: o filme foi pensado à medida que ia sendo rodado, e até ao ultimo momento o realizador e os encenadores não sabiam se Ilse partiria com Victor ou com Rick. Portanto, aquilo que parecem astutos achados de realização e arrancam o aplauso pela sua inopinada desfaçatez são, com efeito, decisões tomadas por desespero. E então: como podia sair, desta cadeia de imprevidências, um filme que ainda hoje, revisto pela segunda, terceira ou quarta vez, arranca o aplauso devido no morceau de bravoure, que se gosta de ouvir bisar, ou o entusiasmo devido a descoberta inédita? É um cast de convenci­dos formidáveis. Mas não basta.
São ele e ela, amargo ele e terna ela, românticos, mas já se tinha visto melhor. (Eco, 1986, p.199)

Umberto Eco. Viagem na Irrealidade Quotidiana

perdas


pintura de
mário botas,1980


Perfil


Horas, dias, meses e anos passam...aprendo muito mas também acumulo muitas perdas...amigos, amores, inspiradores...vozes que se silenciam.

Hoje sinto-me mais só!

terça-feira, junho 14, 2005

amanhã

hoje

ontem

domingo, junho 12, 2005

camaleão da sóciodiversidade


ney matogrosso

Espaços de encontro de amigos precisam-se...quero fazer parte de muitos e começo por este, tudo porque sou um camaleão a quem deram fala mas cujo o olhar é sempre o mesmo: olho e vejo pessoas, olho e vejo afectos, olho e vejo ansias de sermos felizes, e o meu olhar diz - quero estar contigo, naquilo que és e naquilo que eu sou! e o céu fica azul, as flores perfumam-se, os pássaros dançam, as águas percorrem sulcos desconhecidos e nós ficamos de olhos dados a ver a dança da natureza.

Foi o que respondi ao Paulo Jorge quando ele escreveu: Um grupo de amig@s (d)escreve a partir das margens do Mondego o seu mundo... torcido!

domingo, junho 05, 2005

logo estarei assim


foto de Man Ray

agora estou assim



olho e fico espantadaaaaaaaaaa...

acordei assim



Pablo Picasso
Mulheres Correndo na Praia

sábado, junho 04, 2005

masturbação, masturbação, masturbação, masturbação...


foto em apenaseu

A masturbação está para o corpo
Como as emoções estão para o cérebro!
Não podem ser impedidos,
Distorcidos, retorcidos, recalcados e desviados, sim!
Eliminados, não.

masturbação, masturbação...


foto em amizadenastrevas

Por mais que tentem não nos conseguem roubar o direito à masturbação...

masturbação...


foto de brevesdesaude


Querem-nos resgatar a masturbação...

quarta-feira, junho 01, 2005

olho...e choro



Man Ray - Les Larmes (Tears)

Olho o céu e choro, olho as orquídeas e choro, olho o sorriso de uma criança e choro, olho o raio de sol e choro, olho o brilho do teu olhar e choro, olho os teus dedos longos e choro, olho o teu pé delicadamente poisado e choro, olho teus ombros delicadamente robustos e choro...

Perguntam-me se estou saudosa, não.
Perguntam-me se estou apaixonada, não.
Perguntam-me se estou desgostosa, não.

Grito: estou viva e em estado de urgência.