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"O binding é a prática de enfaixar o peito usada pelos homens transsexuais para o esconder, até à altura da mastectomia, em que é removido o tecido mamário। O peito é um dos sinais físicos mais fortes de feminilidade, e tanto pelo desconforto que provoca no próprio, como pela identificação no feminino que os outros podem fazer dos homens transsexuais, a sua remoção é um dos objectivos mais desejados durante a transição.
As directivas clínicas internacionais que a regulam prevêem explicitamente que a mastectomia possa ser realizada ainda antes de se começar a terapia hormonal, que tem um efeito profundo e rápido de masculinização do corpo (6 a 12 meses bastam para a barba se tornar visível, a voz se tornar mais grave, a capilosidade corporal e massa muscular aumentarem, e a face tomar um padrão de distribuição de gordura tipicamente masculino), mas que nada faz em relação ao peito.
Quem é obrigado – como acontece no SNS português – a iniciar a terapia hormonal, e mantê-la tipicamente durante dois ou mais anos, sem poder fazer a mastectomia, cedo começa a exibir sinais contraditórios de feminilidade (peito) e masculinidade (o resto do corpo), e, mesmo que antes disso não tenha começado a enfaixar o peito, tem de começar a fazê-lo. Para quem tem um peito pequeno, mesmo assim a situação é desconfortável, com faixas e camisolas especiais usadas em conjunto para fazer o ocultar. O prática do binding a tempo inteiro inevitavelmente leva a feridas por fricção, para além de uma sensação permanente de desconforto por pressão.
Para agravar ainda mais a situação, muitos homens transsexuais sentem-se tudo menos à-vontade para irem ao médico quando as feridas infeccionam, o que acontece em muitos casos. A apresentação ao funcionário no atendimento, com documentação ainda no feminino, e ao médico, que tem de examinar o peito descoberto, são um exercício psicologicamente doloroso que chegue para muitos preferirem não recorrer a cuidados médicos.
E nalguns casos o peito é grande que chegue para que nem o binding, acompanhado frequentemente de uma postura inclinada, uso de camisas e casacos largos e grossos, consiga oculta a sua presença. Os sinais de transsexualidade tornam-se visíveis o que chegue para toda e qualquer pessoa, informada e tolerante ou não, os perceber. Alguém que é visivelmente transsexual não consegue passear na rua com total à-vontade, muitas vezes, com receio do insulto ou agressão física.
Infelizmente, e apesar da terapia hormonal ter um efeito mais profundo a nível físico e psicológico e neurológico do que as cirurgias, a Ordem dos Médicos portuguesa não só exige que as cirurgias sejam feitas após a terapia hormonal, bem como lhe seja pedida autorização por escrito para poderem ser feitas. Não há nenhuma mais-valia nesta autorização, em que não se examina ou fala com o requerente, mas apenas se verifica se todos os exames, assinaturas, e carimbos, estão arquivados no processo. É um processo burocrático, não médico, apenas exigido em Portugal, a nível europeu, e apenas em relação aos casos de transsexualidade, apesar de haverem muitas cirurgias com risco potencial imediato para a vida em caso de diagnósticos errados.
As directivas, os Standards of Care, permitem uma transição rápida e eficaz. Infelizmente também dão uma amplitude de decisão que nem todos os médicos, ou Ordens, usam no interesse do paciente. A situação é patentemente abusiva e desrespeitadora dos princípios da própria medicina, muitos profissionais de medicina envolvidos no acompanhamento das pessoas transsexuais a contestam, mas sobrevive na face do autoritarismo de uma Ordem mais interessada num monopólio do que nos interesses de quem serve." por
Siona e para siona pela sua lucidez, inspiração e ensinamento
Etiquetas: não ao género sim à pessoa, primavera, quem lhes assinou a procuração para brincarem aos deuses?