Olhem Para Mim!
Olhem Para Mim ou Comme Une Image, filme onde as relações humanas dominam os espaços numa dissecação destas relações a vários níveis e em diversos graus, numa escalada de profundidade onde nos podemos afundar e donde podemos emergir.
Relações diversas com denominador comum num egoísmo narcisico, onde quase todos vivem obcecados pela própria imagem que querem ver reflectida nos actos dos outros dirigidas para si, traduzido nos movimentos desesperados em serem notados, vistos e olhados por um outro significativo, numa fase inicial, e depois por todos (como um vicio que se vai alastrando de forma insidiosa e sempre insatisfeita). Um desejo que se alimenta de gestos e movimentos de sedução ou provocação, ataque e defesa, para conseguir o olhar, ainda que pouco atento, do outro em si. Espiral centrípeta de busca incessante que redunda no esquecimento de se olhar o outro, de o ver, cheirar, ouvir e sentir de forma sub-epidérmica, intersticial e de afectos recíprocos.
A catarse acontece, a lucidez parece então ter uma existência que se avoluma, na presença de alguém genuinamente bom que parece ter um efeito de contaminação sobre os outros, concentrados numa tensão consequente às suas atitudes suicido/homocido-relacionais, após um longo período de incubação, coincidente com o tempo de duração quase total da película.
Iniciamos o filme num trajecto emocional onde se nos invade uma tristeza acusativa, que dá lugar a uma indignação incrédula, seguindo-se a constatação da corrupção inevitável, que leva à desistência de esperar um desenrolar de acção que dê crédito ao humano. Pico emocional de raiva, revolta, frustração, desconfiança que explode no géiser de emoções de ‘verdade’ reposta, de esperança nas relações e de dádiva desinteressada, centrada na personagem mais silenciosa, atenta e disponível de todo o enredo. Terminando com um golpe de oxigénio, numa acção imediata tipo ‘respiração boca-a-boca’, onde é possível (re)começar, construir um novo trajecto e acreditar que é possível... sonhar.
Um céu estrelado para Agnès Jaoiu, Senhora de uma sensibilidade acutilante, uma densidade desarmante e uma credulidade mobilizadora.