alerta vermelho
Sem querer, e quase por engano, de repente lá estava eu na sala 9 daquele espaço plastificado, insuflado e sonoramente cheio de mastigar de pipocas ou hambúrgueres.
Sem querer, e quase por engano, via uma Meryl materna a dar colo a uma Uma bela e carente.
Sem querer, e quase por engano, esta Uma fascina-se pelo vigor da juventude masculina e esta Meryl deixa-se levar pela curiosidade masoquista de presenciar um filho tornar-se o que a sociedade chama de homem.
Sem querer, e quase por engano, assisto passivamente a um desenrolar moralista da condição feminina a ser irremediavelmente remetida ao casulo da sua maturidade (ameaçadora? para quem? castradora? de quem?).
Sem querer, e quase por engano, recebo uma lição sobre a não possibilidade de uma mulher se poder relacionar seriamente com homens mais novos (só por brincadeira? só no exercício de lhe desenvolver a mestria para outras da sua idade poderem ser conduzidas por um futuro adulto mais destro?)
Sem querer, e quase por engano, paguei uma mal estruturada tentativa de lavagem cerebral para desejar estórias de homens maduros a protegerem raparigas mais novas, indefesas e incapazes de gerirem suas vidas e para repudiar estórias de mulheres a quererem fazer esse mesmo papel (onde fica o sentimento no meio de tudo isto? O que são as relações nestes media se não mais do que um alinhamento de sexos opostos, com intenção de procriar e permitir ao macho exercer o seu poder viril? não temos aqui uma ilha mental de desajustados que não encaixam nessa dicotomia, alvo de discriminações, mesmo que silenciosas?)
Alerta vermelho: não ver comédias estigmatizantes, como esta. Ou então ver artilhado de detector de moralismos convenientes (e não o são sempre?), e de mensagens subliminares de condicionamento a um comportamento socialmente manipulado e espartilhos emocionais a tolherem-nos nos ‘velhos’ papeis sexuais.