segunda-feira, novembro 29, 2004

O tempo escasseia, mas a descoberta de novos sons é um deleite impossível de abdicar... Os alemães Re: Jazz , num abençoado momento de inspiração, contrariam as actuais tendências e metamorfosearam os sons electrónicos dos (também fantásticos) Kruder& Dorfmeister, Jazzanova, Air, Mo' Horizons entre outros, em jazz. “Point of view” é deliciosamente viciante...

domingo, novembro 28, 2004

Indecifrável

Que quererá dizer aquela imagem de uma multiplicidade de pessoas, com cabelos longos muito penteados, olhos contornados, lábios brilhantes, sorrisos contagiantes, vozes melodiosas de aparente satisfação e realização, vestidos coloridos e de linhas recatadas, sapatos cinderela, alegremente bailando junto a estendais parecendo ter alcançado o auge de uma concretização e o êxtase de uma condição?
Não percebo... quem são, por onde andam, de onde vieram, que pretendem? Será ficção de alguns revivalistas ou memória de alguns saudosistas?
Aguardo explicações para este mistério televisivo que tanto me intriga e do sono quase me priva.


Queria eu ser a palavra que alegremente se equilibra no teu sorriso!

sábado, novembro 27, 2004

Amar um homem é um acto de paixão e compaixão, é abraçar a rocha dura para a amaciar e não deixar partir como cristal.
Amar uma mulher é fazer parte e sentir-se sublime, é encetar um voo planando sobre a doçura, é sentir-se no outro, conhecer-se na descoberta e descansar no seu colo.

quarta-feira, novembro 24, 2004



oRDEM pARA bRINCAR!

O Preço da Sabedoria?

O preço da sabedoria será calculado em euros ou dólares? Haverá um instrumento que apure a exacta medida da sabedoria (não aceito as medidas dos testes académicos ou baterias de inteligência, nem a ostentação de status) e uma lista onde apareça a equivalência monetária, com cálculos de previsão de progressão futura, taxas e juros associados à sua construção e aplicação?
Numa ingenuidade quase infantil pensei que se pudesse calcular em harmonia e paz, em equilibrado desenvolvimento humano, no incremento das qualidades mais belas – daquelas que inspiram actos de solidariedade.
Ter-me-ei enganado no planeta?

Cada um tem o Ramallah que merece! - disse o tomané.

domingo, novembro 21, 2004


ordem para sonhar!

Heróis

Parece atávico a dicotomia de construir heróis, com quem há uma identificação e os quais passam a ser amados e imitados, e destruir aqueles que são percebidos como diferentes e perturbadores, com medo da ameaça à estabilidade socialmente periclitante, os quais passam a ser inimigos e levam ao ataque, ostracização e marginalização, na tentativa de eliminação das suas manifestações, que também podem ser a de cada um.

Os heróis que nos media se vão construindo reproduzem-se e respiram-se, o que não seria maléfico se à sua produção presidisse uma autenticidade e altruísmo, num bem querer humanitário e comunitário, sem pretensão missionária (expressão contestável no seu sentido de imposição religiosamente justificável, ou de santidade auto-didacta, como diz William Burroughs numa interpretação de Kurt Weill). No entanto qualquer indivíduo que se apetreche de artefactos exteriorizantes de condição social (diga-se que num conceito clássico significaria que possuiria os bens cognitivos, emocionais e intelectuais que o colocariam numa posição face aos seus semelhantes de uma forma a poder elucidá-los, esclarece-los e orientá-los), mesmo, e cada vez mais, que aparatosos e sem conteúdo real, parece conseguir, numa teia construída por interesses vários, um ascendente manipulado num consumismo visual e economicamente incrementador da riqueza dos já possuidores de fortunas inescrepulosamente conseguidas.

Os ‘profetas’ são ensurdecidos por outras vozes televisivas, as quais para se fazerem ouvir, a fim de obterem benefícios pessoais, elevam o nível de impacto, perdendo-se no conteúdo, na súmula e na essência. Verdadeiras vozes, com interesses altruístas e comunitários, estarão silenciadas nas ‘masmorras’ dos hospitais psiquiátricos, amordaçadas pelos abençoados neurolépticos, fluoxetinas e ansiolíticos sedativos?

Os românticos que descrevem a lua e o sol, com o animismo de La Fontaine, que fazem do mar um aveludado lençol que nos embala os sonhos, para quem as aves são veículo de polinização de afectos, estarão silenciados pela exuberância consumista do luxo e prazer imediato obtido na posse ilusória e hiperrealista de objectos que se esvaem numa funcionalidade inútil às necessidades humanas mais intrínsecas?

Os idealistas que tecem um mundo de igualdade, sem guerras nem ambições desmedidas, onde sonhar é possível, onde o amor por si e pelo outro impera, onde todos podemos concretizar-nos, são vetados ao surrealismo, à fantasia e à ficção?

Heróis precisam-se ... heróis sem lóbis nem estereótipos, autênticos crentes na humanidade e na profundidade dos enaltecedores sentimentos que nos animam.
Essas vozes não estão emudecidas, só precisamos de escutar com muita atenção, quem sabe se escutarmos dentro de nós e dos que nos aconchegam, possamos ver um esboço de herói?

show

Let the show begin
It´s a sorry sight
Let it all deceive
Now I´m
Pains in me that I never found
Let the show begin
Let the clouds roll
There´s a life
To be found in this world
And now I see it´s all but a game
That we hope to achieve
What we can
What we will
What we did suddenly
But it´s all but a show
A time for us
And the words will never know
And daylight comes
And fades with the tide
And I´m here to stay

… como lágrimas purificantes a voz de Beth Gibbons nunca estará “Out of Season” (2002)

quinta-feira, novembro 18, 2004

Ela vivia feliz com o amor na sua caixinha dourada, era como pó de pirilimpimpim onde ia de tempos a tempos buscar uma pitada para que lhe sorrissem os olhos, e todos os gestos eram de enorme acolhimento; com eles abraçava cada raio de sol que a visitava, cada odor primaveril que a espreitava, cada luar que a iluminava, cada brisa que a refrescava, toda ela era um colo pleno de presentes celestes que ia distribuindo por aquelas que a contemplavam e que a interpelavam. Das suas lágrimas de alegria triste ia construindo uma casa do cristal mais brilhante, delicado e robusto que alguma vez qualquer humano houvera vislumbrado; nela cada dia ia amolando uma luz especial e irrepetível que se propagava de forma intensa e inevitável por todos quantos ousavam olhar; não mais eram os mesmos, não se reconheciam nos seus trejeitos diários, urgia reconstruírem-se como se uma aranha invisível lhes tecesse uma teia que os conduzia por um caminho único e mais belo.
Os seus pensamentos eram como partículas de oxigénio que purificavam o ar que a envolvia, neles se inalavam gotas de amor, compreensão, rebelião e incansável aperfeiçoamento, nunca se cansava.

segunda-feira, novembro 15, 2004

A viagem é purgante da alma.
É como um xamã exorcizando uma a uma cada maleita cá dentro.
E não será afinal a paixão um estado voluntário de cegueira?

domingo, novembro 14, 2004

"A minha verdade é mais verdadeira que a tua"

A indigência de espírito incomoda-me. Tanto mais se ela advier de pessoas com nível de educação superior e a viverem há mais de 10 em cidades como Porto, Lisboa, Coimbra onde a diversidade cultural e social se pode encontrar na rua. Mesmo para quem só olha para os paralelos ou para o alcatrão, concerteza que passa os olhos pelos mass média. Certamente terá uma “ovelha negra” na família. Seguramente, já terá ouvido muitas opiniões divergentes das suas e porventura já terá feito algo que há 5, 6, 7 anos atrás seria absolutamente impensável. Indivíduos a quem a sua pequenez apenas permite continuar a ver uma das faces de uma determinada realidade (aquela que predomina na sociedade) e que disseminam e perpetuam como verdade única e inabalável. Indivíduos para quem qualquer atitude ou comportamento divergente do seu é fervorosamente criticado e alvo de chacota. São os auto-denominados “pessoas normais” (seja lá o que isso for e seja lá qual for a sua extensão).
Cada um tem a sua opinião e isso nem se discute. O que me causa algum prurido é a incapacidade de ir mais longe, de ver e ouvir o outro lado, de negar o direito à existência desse outro lado. O meu prurido transforma-se num formigueiro intenso quando essa incapacidade de aceitar as diferenças é oriunda daqueles que, sob a égide de intelectuais e defensores de igualitarismos sociais, lançam acutilantes ironias contra todos aqueles que não comungam dos seus ideais. Também estes têm uma verdade única. Também estes não aceitam a diferença. Aos primeiros chamo ignorantes e infelizmente, muitos apregoam em salas de formação, castrando o desenvolvimento ético e intelectual de crianças e adolescentes. Aos segundos, chamo hipócritas. Ambos indigentes.

sexta-feira, novembro 12, 2004

Estou aqui nesta casa onde nem sequer me posso perder, afastar-me do meu próprio cheiro, do rasto de pensamentos que vão povoando o ar que estagna como nuvens de chumbo prontas a abaterem-se sobre a minha carcaça.

terça-feira, novembro 09, 2004

tristeza


“( ...) foi uma tristeza que me entrou de repente, disse, (...)” in Ensaio Sobre aCegueira de José Saramago.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Vitorias Dolorosas

Luta de Titãs é o que acontece nas enfermarias de um hospital. São vitoriosos os que saem com vida, batem recordes os que saem numa estada em número de dias inferior, são perdedores, fracassados, alvos aos olhares de comiseração aqueles que saem deitados ou aqueles que saem sem conseguir pestanejar – na dignidade com que a morte se nos cola, ainda que só reconhecida noutras culturas.

É doloroso, para não dizer vergonhoso quando um ente querido leva a esta percepção e reflexão, ver alguém de quem se gosta a ser alvo de relacionamentos inevitáveis que não ‘perdoam’ na sua avaliação de juizes duros e inflexíveis, a cada movimento diário. Piora quando nós próprios que observamos esta dinâmica percebemos que também estamos a entrar na movimentação, forçando para obter resultados competidores, que os habilitem, apurem para etapas seguintes, e se possível que os coloquem no lugares dos líderes das vitorias.
Claro que a luta pela saúde tem sentido, especialmente num contexto cultural em que a sobrevivência vale tudo, prolongar a vida é uma máxima válida mas que muitas vezes se esquece da qualidade em que essa vida decorre, somos hipnotizados pelos números, indicadores de idoneidade em quase tudo o que nos rodeia – já o filosofo havia dito que o mundo está escrito em caracteres matemáticos, o escritor aludiu ao perigo de alienação de se ficar viciado na contabilização como forma de controlo e os media nos seus focos políticos e económicos emolam-se nas estatísticas com que se justificam.
Simplesmente existir ou ter existido já nos coloca numa categorização numérica, da qual não temos escapatória, então se tivermos qualquer vinculo mais intenso a instituições de saúde as categorizações de pertença aumentam significativamente, sem que isso se repercuta em benefícios para a qualidade de vida de cada Titã que por lá pernoite e que de lá possa sair vitorioso.

Amizades Prostitutas

Há amigos que, em cada situação de partilha, se dão como se únicos fôramos. Ali ficam fazendo-nos sentir que somos as pessoas mais importantes do mundo, atentos a qualquer pequena necessidade, quase nos carregando às costas quando estamos cansados. Nós damo-nos sem defesas, oferecemos os segredos mais recônditos, lambemo-lhes as mãos como um canino saciado e protegido e abraçamo-los com o olhar enternecido.
Findo aquele momentos, aqueles tempos de partilha contínua e intensa, vão como se de missionários se tratasse para estar com outro amigo único e com os problemas mais importantes do mundo e universo. ...

sexta-feira, novembro 05, 2004

Manif’s démodé

Digam lá o que disserem, antes das 10h00 da manhã, no rádio do meu carro só a emissão da TSF. Se a coisa por essas bandas não me agradar, entro num zapping desesperado: primeiro pelas estações do costume (antena 3 e ruc) e depois por mais algumas que o deficiente rds do meu rádio consegue captar, mas a essa hora...! Leitor de cds não há e assim sendo, regresso à TSF. Ontem demanhã, a propósito da manif de estudantes do ensino superior ouvi, na rádio jornal, algo que acabei por considerar como a “frase do dia”. Não tenho total certeza quanto ao emissor da frase (sim, porque às 09:30 os meus neurónios ainda se estão a espreguiçar, pelo o nível de assimilação e processamento de informação está aquém do desejável). Julgo ter saído da boca do dirigente estudantil da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Particular e Cooperativo e consistia mais ou menos no seguinte: “as manifestações de rua foram muito banalizadas pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda. Já são fórmulas gastas e não surtem efeito”.

Quais marchas rua abaixo e rua acima! Quais concentrações ruidosas! A culpa é da esquerda tornou as manif's num produto pop!
Estudantes (e porque não, povo de Portugal) há que inovar!

Oferecem-se prémios para os promotores das manif’s mais originais. (Mas não aqui)

segunda-feira, novembro 01, 2004

Ajudar com o Olhar

Há dois anos apareciam no nosso país – na tv e nalgumas revistas adjacentes a determinados jornais - alguns spots de publicidade institucional que acusavam o desprezo a que são votados os sem abrigo. Estes pequenos (grandes) alertas foram realizados por uma equipa de jovens portugueses valendo-lhes, inclusive, um prémio de publicidade a nível europeu dentro da categoria em que se enquadrava. Através de imagens a preto e cinza podíamos ver as escadas do metro de Lisboa . Num dos degraus aparecia o nome e a idade de alguém. A ideia estava magnífica. A mensagem era forte: Ninguém os vê, ou melhor todos os ignoram, mas eles estão lá. Infelizmente, também essas imagens foram ignoradas. É mais fácil “pormos para o lado” aquilo que nos traz alguma dor ou aquilo que poderá vir a ser o nosso futuro. “Se não olharmos para eles, eles não entram no nosso mundo. Xô, vai-te embora mau agoiro!!”. Ninguém, está livre.

As ruas das grandes cidades estão cheias de pedintes. Sem abrigo ou indivíduos a quem a desgraçada vida obriga a este tipo de exposição. Muitos são oportunistas. Mas quais deles serão oportunistas? O receio de sermos enganados é outra das justificações para apressarmos o passo e negarmos visibilidade àqueles que se aninham na soleira de uma porta, ou sempre que alguém nos aborda.

Desde muito nova que sou incapaz de negar um olhar e muitas vezes algumas palavras a quem me interpela na rua com o intuito de pedir ajuda. Posso ser ludibriada mas, salvo casos que me pareciam demasiado óbvios, nunca o meu primeiro olhar foi reprovador. Raramente, dou dinheiro. Compro a revista Cais. Ajudo, comprando alguns pensos rápidos porque dão sempre jeito. Também contribuo com bens alimentares e vestuário: jamais esquecerei, o sorriso com que uma criança me presenteou, há poucos anos atrás, à saída do Pingo Doce da Baixa de Coimbra. Pediu-me dinheiro. Em troca ofereci-lhe um iogurte líquido e um pacotinho de bolachas de chocolate.

Posso, na maioria das vezes, não contribuir monetariamente para esses “peditórios”, mas um olhar, um reconhecer de que ali está um ser humano, isso nunca nego.